O presidente da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Antônio da Costa, afirmou nesta terça-feira (2), em Brasília,
que um corte de 44% no orçamento do órgão, "mão de obra escassa" e
grande volume de processos impossibilitam o acompanhamento de todos os pedidos
de demarcação de terras indígenas protocolados no órgão. Segundo ele, o ataque
a índios da etnia Gamela no último domingo (30) em razão de disputa de terras
"fugiu ao controle".
No ataque, um índio teve as mãos
decepadas em uma comunidade indígena do município de Viana (MA) – localizado a
220 quilômetros de São Luís –, em uma região reivindicada que é alvo de
conflito agrário.
Os índios da etnia Gamela
reivindicam a posse de mais 14 mil hectares no interior do Maranhão. O grupo
cobra que a Funai abra processo para demarcação do território.
Segundo o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi), um grupo de fazendeiros atacou no domingo a área ocupada
pelos Gamela e feriu, ao todo, 13 pessoas. De acordo com a Secretaria de
Segurança Pública (SSP), houve um "confronto" que deixou cinco
feridos.
Diante da repercussão do caso, o
presidente da Funai afirmou que enviou servidores do órgão ao Maranhão para
acompanhar as investigações. Ele relatou ainda que tomou providências jurídicas
para que a Procuradoria da fundação monitore o inquérito policial que apura o
caso.
“Esse processo [de demarcação de
terras no município de Viana] é novo e entrou na Funai em 2016. Faz parte de um
rol de vários processos de demarcação de terras, que, devido à quantidade de
processos que a Funai tem e à mão de obra escassa, impossibilita a instituição
o acompanhamento de todas as solicitações", justificou o presidente da
Funai em entrevista concedida nesta terça-feira, em Brasília.
"O que estamos pensando é
que esse problema é da Funai, mas temos que envolver o governo do Estado, a
prefeitura [de Viana] e estado brasileiro para que esse processo não caia só
sobre o ombro da Funai”, complementou Costa.
O presidente da Funai reuniu a
equipe do órgão na manhã desta terça para discutir o ataque aos índios ocorrido
no Maranhão. No encontro, os dirigentes avaliaram o corte de quase metade do
orçamento da fundação.
Antonio da Costa informou aos
jornalistas, ao final da reunião, que, pelo menos, cinco índios estão
hospitalizados por conta do ataque do último domingo. O presidente da Funai
ressaltou que, das vítimas hospitalizadas, três deles estão em estado de saúde
mais delicado.
'Fugiu ao controle'
Em meio à entrevista desta
terça-feira, o presidente da Funai tentou minimizar a repercussão do ataque aos
índios maranhenses, argumentando que conflitos como o que ocorreu último
domingo não são a regra. Na visão do dirigente, o episódio envolvendo os
indígenas de Viana "fugiu ao controle" da Funai e da polícia.
Antonio da Costa disse que
conflitos envolvendo terra "não são fáceis de se resolver", mas,
mesmo assim, a entidade tem buscado ações para “levar a paz ao campo”.
“Temos terras que já estão
homologadas e que estão em conflito até hoje. É preciso diálogo. Os índios são
nossos irmãos. Precisamos ter cuidado especial, através do diálogo, da conversa
e ir para o campo da negociação”, enfatizou.
Relatório
Responsável pela coordenação da
política indigenista do governo federal, Antônio da Costa informou que havia
informações de que alguns índios haviam fugido no momento do ataque em Viana,
mas, segundo ele, esses índios já foram localizados e estão novamente na
comunidade.
A fundação deve concluir na tarde
desta terça um relatório com detalhes do ataque aos índios no Maranhão.
Conforme o dirigente, o documento vai expor “uma realidade do que ocorreu e
está acontecendo” no município maranhense.
O presidente da Funai ressaltou
que, embora o órgão federal não possa se envolver no inquérito policial, vai
cobrar que se apure "de forma verdadeira" o episódio "para que
não se repita".
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