A
Justiça Federal negou nesta sexta-feira (3) o pedido de habeas corpus
preventivo solicitado no dia anterior pela defesa do ex-ministro José Dirceu para tentar evitar uma possível
prisão dele na Operação Lava Jato. A informação é do Tribunal Regional da 4ª
Região (TRF4), com sede em Porto Alegre.
O
pedido foi feito na quinta-feira (2) pela defesa do ex-ministro após o
empresário Milton Pascowitch, preso durante a Operação Lava Jato, dizer que o
ex-chefe da Casa Civil recebeu propina por contratos com a Petrobras.
A
defesa de Dirceu alegou que ele tem colaborado com as investigações sobre o
escândalo de corrupção na Petrobras e que quer evitar um "constrangimento
ilegal" com uma possível prisão do
ex-ministro. Segundo os advogados, na sua vida política, ele "não
construiu castelos, não criou impérios ou acumulou fortuna".
Responsavel
pela decisão, o juiz federal Nivaldo Brunoni afirmou que o fato de Dirceu ser apontado
por Pascowitch na delação premiada não significa que ele será preso
cautelarmente e que o "mero receio" da defesa não justifica o habeas
corpus preventivo.
"(...)
O fato de o paciente [Dirceu] ser investigado e apontado no depoimento de
Milton Pascowitch não resultará necessariamente na prisão processual. Até mesmo
em face do registro histórico, as prisões determinadas no âmbito da 'Lava-Jato'
estão guarnecidas por outros elementos comprobatórios do que foi afirmado por
terceiros", escreveu o juiz.
O
juiz explicou ainda que decretou segredo de Justiça por 48 horas no processo
para evitar uma queda no sistema no portal de consulta processual da Justiça
Federal como a que ocorreu na semana passada, quando um cidadão de Campinas
(SP) entrou com um pedido semelhante em benefício do ex-presidente Lula.
O depoimento de
Pascowitch
Os
detalhes da delação premiada de Pascowitch foram divulgados na quarta-feira
(1º). O empresário relatou aos procuradores do Ministério Público Federal ter
intermediado pagamento de propina a José Dirceu para que a Engevix, uma das
empresas investigadas pela Polícia Federal, mantivesse contratos com a estatal.
Na
delação, Pascowitch afirmou que a empresa dele, Jamp, pagou R$ 1,5 milhão para
a JD Consultoria, empresa do ex-ministro.
Atualmente,
José Dirceu cumpre prisão domiciliar em regime aberto por condenação no
processo do mensalão do PT. Ele cumpre 7 anos e 11 meses pelo crime de
corrupção ativa. O ex-ministro foi preso em novembro de 2013, e, menos de um
ano depois, obteve progressão do regime semiaberto para o aberto.
Investigações da Lava
Jato
Dirceu
é investigado em inquérito por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro. Os
investigadores querem saber se a empresa dele prestou serviços de consultoria a
empresas que desviaram dinheiro da Petrobras ou se os contratos eram apenas uma
maneira de disfarçar repasses de dinheiro desviado da Petrobras.
Em
janeiro, o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância,
decretou a quebra do sigilo bancário e fiscal da empresa JD Consultoria e do
ex-ministro depois de as investigações revelarem pagamentos de empresas ligadas
ao esquema de corrupção para a empresa de Dirceu.
Segundo
relatório da Receita Federal, a empresa de José Dirceu recebeu dinheiro de pelo
menos cinco empresas investigadas na Lava Jato – construtoras OAS, Engevix,
Galvão Engenharia, Camargo Corrêa e UTC. Entre 2006 e 2013, os depósitos
somados chegaram a quase R$ 8 milhões. Os pagamentos estão sendo investigados.
A
JD Consultoria faturou R$ 29 milhões em contratos com cerca de 50 empresas nos
últimos nove anos, segundo advogados de Dirceu.
O que diz a defesa de
Dirceu
Procurada,
a defesa do ex-ministro reafirmou que o contrato da JD Consultoria com a Jamp
não tem relação com a Petrobras ou o PT. Segundo o habeas corpus, a consultoria
"já encerrou, há muito tempo, suas atividades, não tendo mais quaisquer
valores a receber nem tampouco funcionários".
Os
advogados de José Dirceu afirmam ainda que, diante de fatos relatados pela
imprensa, ele está na "iminência de sofrer constrangimento ilegal" em
investigação aberta na Justiça Federal do Paraná.
No
pedido, a defesa diz que o ex-ministro tem colaborado com as investigações.
"[...] Desde o momento em que foi cientificado (repita-se, pela imprensa)
de que era alvo das investigações da Operação Lava Jato, José Dirceu tem
colaborado com as autoridades, revelando, assim, a absoluta desnecessidade de
eventual e tão anunciada prisão preventiva", diz o texto.
Os
advogados sustentam que Dirceu tem adotado postura "absolutamente
proativa" e apresentou documentos referentes aos serviços prestados às
empresas Galvão Engenharia, Construtora OAS e UTC Engenharia. Depois, diz a
defesa, Dirceu abriu mão de seus sigilos "e se colocou à disposição, mais
de uma vez, para prestar esclarecimentos à autoridade policial e ao Ministério
Público Federal".
No
texto, a defesa afirma ainda que Dirceu não tem riquezas e "não construiu
castelos". "Até mesmo seus críticos mais duros sabem que com ele não
encontrarão riquezas escondidas; dele, não acharão contas no exterior, nem com
muito, nem com pouco dinheiro. Pelo contrário, o que se afirma nas delações é
que amigos pediram por ele."
Prisão de empresário
Pascowitch
foi preso pela PF em maio deste ano na 13ª fase da Lava Jato e levado à
superintendência da corporação em Curitiba (PR).
Na
última terça (30), ele passou a cumprir pena em regime domiciliar em São Paulo,
em razão do acordo de delação premiada, homologado pela Justiça Federal no dia
anterior.
Segundo
a Polícia Federal, Pascowitch é suspeito de ser um dos operadores do esquema de
corrupção que atuou na Petrobras. A PF diz que ele atuava como elo entre a
diretoria de Serviços da estatal e o PT. O contato, diz a corporação, era feito
por meio da JD Consultoria.
Habeas corpus para Lula
Há
uma semana, um pedido de habeas corpus preventivo também foi registrado no
TRF-4 pedindo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fosse preso na
Lava Jato. Na ocasião, o Instituto Lula, do ex-presidente, negou que a ação
judicial tenha sido impetrada por ele ou por qualquer advogado ou entidade que
o represente.
Segundo
a assessoria do TRF-4, o autor do pedido era Maurício Ramos Thomaz. Ele é um
consultor de Campinas, sem ligação com ex-presidente. Qualquer cidadão tem o
direito de acionar a Justiça para obter um habeas corpus em favor de qualquer
pessoa.
O
habeas corpus preventivo, também conhecido como salvo-conduto, pode ser
concedido quando a liberdade física está sendo ameaçada (ou seja, quando ainda
não há o dano, mas apenas a ameaça de dano).
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