Mais da metade dos estados
brasileiros não cumpre o salário estipulado na lei do piso dos professores, de
acordo com levantamento divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação (CNTE). São 14 os estados que pagam aos professores menos do que os
R$ 2.135,64 por mês.
“Isso é ruim, no ano passado, na
mesma época, mais estados cumpriam a lei”, diz a secretária-geral da
confederação, Marta Vanelli. “Está em lei federal, mas é preciso muita luta no
estado para que seja pago. O governo anuncia o reajuste e depois há embate nos
estados e municípios. Todo ano é assim”.
O piso salarial dos docentes é
reajustado anualmente, seguindo a Lei 11.738/2008, a Lei do Piso, que vincula o
aumento à variação ocorrida no valor anual mínimo por aluno definido no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O piso
é pago a profissionais em início de carreira, com formação de nível médio e
carga horária de 40 horas semanais.
A tabela divulgada esta semana
pela CNTE mostra que Alagoas, Goiás, Maranhão, Paraíba, Paraná, São Paulo,
Tocantins e Rio Grande do Sul não cumprem o valor do piso apenas para os
professores com formação de nível médio. Aqueles com formação superior recebem
o valor atualizado.
Bahia, Ceará, Rio de Janeiro,
Rondônia e Pernambuco não pagam o valor no vencimento, como estipula a lei, mas
cumprem o valor na remuneração, ou seja, acrescentando gratificações e
complementações. Espírito Santo não cumpre o valor estipulado para 2016 nem
mesmo na remuneração.
Crise econômica
Devido às dificuldades econômicas
pelas quais o país passa, estados e municípios chegaram a pedir ao Ministério
da Educação (MEC) que adiasse o reajuste do piso salarial dos professores para
agosto. O MEC manteve o anúncio em janeiro e alegou que cumpre o que está
estabelecido em lei. Em 2016, o salário teve um reajuste de 11,36%, passando de
R$ 1.917,78, em 2015, para os atuais R$ 2.135,64.
“Este ano é complexo do ponto de
vista financeiro, temos dados de projeção de queda da arrecadação e temos que
cumprir a lei de responsabilidades fiscal. Ainda que o sejamos favoráveis à Lei
do Piso, é importante que estabeleçamos um pacto para que possamos dar
consistência ao aumento, dentro das condições da receita, senão é difícil
avançar”, diz o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação,
Eduardo Deschamps, “Precisamos de compreensão para que possamos evitar
paralisações que vão prejudicar os estudantes”, acrescenta.
Respostas dos Estados
A Agência Brasil entrou em
contato com as secretarias estaduais de Educação por telefone ouemail. Bahia,
Rio Grande do Sul e Pernambuco afirmam
que a lei é cumprida e que os professores recebem o valor estipulado. Rio de
Janeiro afirma que o valor pago é superior ao estabelecido na lei, sendo R$
2.211,25 para uma jornada de 30 horas; R$ 1.179,35 para 16 horas; e R$ 2.948,33
para 40 horas.
Entre aqueles que, segundo a CNTE
não pagam o piso para os docentes com formação de nível médio, as secretarias
afirmam que atualmente eles são poucos em relação ao total de professores no
quadro, que tem maioria de docentes com licenciatura. No Paraná, 1,8 mil
professores tem formação de nível médio, no Ceará, são 62. Maranhão diz também
que a maioria dos docentes tem licenciatura e que os cargos da carreira em
nível médio “são considerados extintos a vagar”. Tocantins diz que são apenas
87 professores, “mas com o devido complemento em gratificação para se atingir o
piso nacional”. São Paulo diz que não há profissionais com formação de nível
médio e que o salário inferior ao piso não é, portanto, praticado na rede.
Alagoas diz que o processo para
reajuste do piso para o nível médio já está em andamento na Secretaria de
Planejamento e Gestão e, como em todos os anos, deverá ser cumprindo com
retroativo. A Agência Brasil não recebeu retorno das secretarias de Educação do
Espírito Santo, de Goiás, de Rondônia e da Paraíba até o fechamento da
reportagem.
Acordo
O procurador da República Sérgio
Luiz Pinel que é coordenador do projeto Ministério Público pela Educação
(MPEduc) diz não há uma oficialmente um levantamento de dados que mostre com
exatidão quanto os professores ganham tanto nos estados quanto nos municípios.
“Hoje não existe nenhuma ferramenta unificada que faça esse controle se os
municípios e estados estão cumprindo o piso. Alguns tribunais de conta fazem
esse acompanhamento, mas são minoria”.
Pinel explica que o Ministério
Público Federal assinou um acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) para disponiblizar um sistema que estados e municípios possam
informar o salário de cada professor. O cronograma para a implementação desse
sistema vai até agosto de 2017.
A Lei do Piso é discutida no
Fórum Permanente para Acompanhamento da Atualização Progressiva do Valor do
Piso Salarial Nacional que busca uma forma sustentável de promover os
reajustes. O Fórum é composto por representantes do MEC, dos estados, dos municípios
e dos trabalhadores.
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