A
história da redemocratização brasileira, que completa 30 anos esse ano, foi
marcada por um início já conturbado, com a morte inesperada do primeiro
presidente civil após 21 anos de ditadura militar. Eleito indiretamente,
Tancredo Neves teve uma doença rápida e que não parecia grave, mas o matou em
poucos dias.
Sarney vive um clima de despedida da política após 60 anos de vida pública (Nelson Antoine/Fotoarena/AE) |
Sem
Tancredo, coube ao vice José Sarney assumir a Presidência de um País que
precisava se reorganizar politicamente e se reerguer economicamente.
Hoje,
três décadas depois, José Sarney ainda considera esse o momento mais difícil
dos cinco anos em que passou no cargo mais alto do Executivo, mesmo tendo que
enfrentar uma situação política delicada, fazer uma nova Constituição e ainda
elaborar planos econômicos para tentar acabar com a hiperinflação.
—
O momento mais difícil na Presidência foi o dia da morte do Tancredo porque eu
não estava de nenhuma maneira esperando que aquilo acontecesse. Eu não tinha
participado dos planos de governo, não tinha participado da organização do
ministério. Era um vice-presidente de um Estado pobre que não tinha grande
ligações com a grande imprensa nacional, então esse dia foi um dia em que eu
senti uma grande responsabilidade cair sobre as minhas costas.
Prestes
a completar 85 anos de vida, 60 deles na política, Sarney vive um momento de
despedida da política: ele não disputou as últimas eleições ao Senado. O
ex-presidente ainda se lembra do momento em que sua vida e a história do Brasil
mudaram como se tivessem acontecido na semana passada.
—
Eu talvez tenha sido uma das poucas pessoas no Brasil que não sabia que o
Tancredo tinha problema de saúde grave, porque eu vi o Tancredo sempre com
extrema vitalidade, com a vida normal e tratando dos problemas políticos com
absoluta lucidez e com participação total no dia-a-dia e em todas as horas. De
maneira que foi uma surpresa muito grande quando na noite do dia 14 de março o
Aluízio Alves me comunicou que ele estava sendo hospitalizado e eu
imediatamente fui para o Hospital de Base e lá eu me encontrei com o Ulysses
[Guimarães] e na fase final da decisão em que os médicos o convenciam que ele
devia ser operado. Depois eu estive com ele. Eu fui visitá-lo no hospital, no
Incor. A minha impressão é que ele estava se recuperando bem.
Com
fortes dores abdominais, Tancredo escondeu até a véspera da posse que estava
passando mal. Seu medo era que o general Figueiredo não desse posse a Sarney
por ele ser vice, gerando um clima de insegurança política em um momento
delicado de transição de regime político. Sem ter participado da formação de
governo, Sarney teve que tomar posse assumindo os compromissos de Tancredo. Até
o discurso de posse foi escrito pelo presidente eleito, que até aquele momento
ainda estava hospitalizado.
—
Eu tinha subscrito o manifesto da Aliança Democrática que nós fizemos com o
PMDB e tínhamos uma carta compromisso e nessa carta compromisso tinha tudo o
que nós devíamos fazer no governo conjuntamente e eu cumpri integralmente com
todos estes compromissos que nós tínhamos assumido. Eu, quando assumi o
governo, pensava que o Tancredo ia passar apenas uns quatro ou cinco dias
hospitalizado e Imediatamente voltaria ao governo porque o que nós sabíamos era
que ele tinha uma crise aguda de apendicite e que era uma coisa simples. Eu
mantive todo o seu ministério e eu sabia perfeitamente que o governo era todo
do PMDB e eu não podia usurpá-lo e nem o faria de nenhuma maneira. E junto na
Aliança Democrática firmados eles não tinham que ser jamais esquecidos.
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