O Ministério Público Federal do
Maranhão (MPF-MA) recorreu da decisão do juiz federal Magno Linhares, da 2ª
Vara da Justiça Federal, que revogou a prisão preventiva da ex-prefeita de Bom
Jardim (MA), Lidiane Leite da Silva (sem partido), substituindo-a por medidas
cautelares. Na ação, o procurador Galtiênio da Cruz Paulino pede à Justiça
Federal a reconsideração da decisão.
Após 11 dias presa, ex-prefeita
Lidiane Leite foi solta em 9 de outubro (Foto: Biné Moraes/ O Estado)
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Lidiane é investigada pela
Operação Éden, da Polícia Federal, por comandar – com o ex-marido e secretário
de Assuntos Político, Humberto Dantas dos Santos (Beto Rocha), e o
ex-secretário de Agricultura, Antonio Cesarino – um esquema de desvios de R$ 15
milhões dos recursos destinados à educação no município do interior do
Maranhão.
Galtiênio Paulino contesta alguns
pontos da decisão que liberou a ex-gestora, como a alegação de que ela não
poderia interferir a instrução processual por não estar mais no comando do
município, conforme afirmou em entrevista ao G1 na manhã desta quarta-feira
(14). Ele acredita que ela possa coagir testemunhas por causa do poder político
e econômico do grupo ao qual está ligada. “Ela pode vir a atrapalhar nos
futuros inquéritos”, diz.
Apresentação espontânea
A espontaneidade da apresentação
da ex-prefeita também é questionada pelo MPF-MA. “Ela sabia que não iria para a
prisão. Ela só se entregou porque sabia que seria recolhida para o Corpo de
Bombeiros”, explica o procurador.
Segundo Paulino, por não possuir
curso superior e estar afastada do comando de Bom Jardim, ela deveria ter sido
encaminhada para o Complexo Penitenciário de Pedrinhas ou qualquer outro
estabelecimento penal do Estado. A integridade física da ex-prefeita, motivo
alegado pela defesa para que ela fosse levada para o quartel do Corpo de
Bombeiros Militar do Maranhão (CBM-MA), deve ser garantida assim como a
qualquer outro cidadão comum, conforme destaca o procurador.
Enquanto estava recolhida no
CBM-MA, o MPF-MA havia pedido ao juiz da 2ª Vara do Tribunal Regional Federal
(TRF) José Magno Linhares que reconsiderasse a decisão por entender que ela estava
tendo regalias as quais não teria direito.
Falta de denúncia contra Lidiane
Paulino explicou também ao G1 que
o MPF-MA ainda não teve acesso aos autos do inquérito que investiga Lidiane
Leite, porque tramitavam na instância superior, ou seja, no Tribunal Regional
Federal da 1ª Região (TRF1), o que deve acontecer nos próximos dias. Com isso,
falta denúncia mesmo com o inquérito já concluído.
Esse havia um dos motivos que
levaram à decisão do juiz federal Magno Linhares. “Falta o Ministério Público
oferecer a denúncia. Após a denúncia, tem um prazo de defesa prévia e inicia-se
prontamente a ação penal”, disse o magistrado no último dia 9.
Ex-prefeita Lidiane Leite é solta
em São Luís
(Foto: Biné Moraes/ O Estado)
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Tornozeleira eletrônica
Após 11 dias presa, a ex-prefeita
de Bom Jardim, Lidiane Leite da Silva, de 25 anos, foi solta, na tarde do
último dia 9 de outubro, após ter obtido na Justiça Federal a revogação da
prisão preventiva.
Acompanhada do advogado, Lidiane
já usava a tornozeleira eletrônica quando deixou o alojamento do Corpo de
Bombeiros de São Luís, onde estava instalada mesmo sem possuir direito à cela
especial. Abatida, ela evitou contato com a imprensa e seguiu para o Instituto
Médico Legal (IML) para realizar exame de corpo de delito, sendo liberada em
seguida.
O juiz Magno Moraes explicou, em
entrevista coletiva que a ex-prefeita usará a tornozeleira e responderá em
liberdade. Lidiane poderá sair de São Luís e transitar pelos municípios da
Região Metropolitana (Capital, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa),
uma vez que a Comarca responde pelas quatro cidades.
Obrigações
Além do uso da tornozeleira, a
Justiça determinou que Lidiane compareça a juízo para informar e justificar
suas atividades todo mês, seja proibida de frequentar a Prefeitura de Bom
Jardim e só se ausente da Região Metropolitana mediante autorização judicial.
Alegações
A defesa de Lidiane nega que ela
tenha praticado os atos pelos quais é investigada. Para obter a soltura, os
advogados argumentaram que ela nunca "coagiu testemunhas ou dificultou o
trabalho investigativo da PF ou do Ministério Público, ressaltando que ela já
foi afastada do cargo e, por isso, não tem como interferir ou impedir a coleta
de possíveis provas". "Entendo que, na atual situação, desnecessária
a manutenção da segregação cautelar que recai contra a requerente",
conclui o juiz federal José Magno Moraes.
39 dias foragida
A ex-prefeita se entregou na sede
da Polícia Federal (PF), no dia 28 de setembro, e foi levada para o quartel do
Corpo de Bombeiros, em São Luís. Ela ficou foragida por 39 dias depois de ter a
prisão decretada pela Justiça.
Auditoria
A Prefeitura de Bom Jardim entrou
com seis ações por improbidade administrativa no Fórum de Justiça da cidade, e
outras seis representações criminais no Ministério Público contra Lidiane.
Segundo o coordenador da auditoria realizada nas contas do Município, foram
encontradas irregularidades em todos os setores.
Bloqueio de contas
A pedido do Ministério Público, a
Justiça determinou o bloqueio dos bens da ex-prefeita até o limite de R$ 4,1
milhões por fraude em processos licitatórios para a contratação de empresa
locadora de veículos e outro para reformas em escolas na sede e na zona rural
de Bom Jardim.
Entenda
Atualmente com 25 anos, Lidiane
foi eleita por acaso. Depois de ter passado uma infância humilde vendendo leite
para ajudar a mãe, a jovem viu sua vida mudar quando começou um namoro com o
fazendeiro e padrinho político, Beto Rocha.
Em 2012, Rocha foi candidato a
prefeito, mas teve a candidatura impugnada pela Lei da Ficha Limpa e lançou a
namorada pelo PRB. Lidiane foi eleita com 50,2% dos votos válidos (9.575)
frente ao principal adversário, o médico Dr. Francisco (PMDB), que obteve 48,7%
(9.289).
Após a eleição, Lidiane passou a
ostentar uma vida de luxo na internet, incompatível com o salário que recebia
do município. "Eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô
nem aí pra o que achem. Beijinho no ombro pros recalcados", comentou na
internet. A conduta chamou a atenção do Ministério Público, que passou a apurar
fraudes em licitações do município.
Beto Rocha chegou a ser preso
pela Operação Éden. Ele ocupava a função de Secretário de Assunto Políticos na
gestão de Lidiane. Também foi detido Antônio Cezarino, ex-secretário de
Agricultura. Ambos foram soltos no último 26 de setembro por determinação do
Poder Judiciário.
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