O relator do projeto de Orçamento
de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirmou nesta terça-feira (20) ao G1
que vai propor o corte R$ 10 bilhões dos R$ 28,8 bilhões previstos para o Bolsa
Família no ano que vem. Principal bandeira dos governos do PT, o programa prevê
repasses mensais de recursos para famílias de baixa renda.
Segundo Ricardo Barros, o corte
de 35% no principal programa de transferência de renda do governo impediria o
ingresso de novos beneficiários, mas as famílias atualmente cadastradas
continuariam a receber os recursos.
"Vou cortar R$ 10 bilhões do
Bolsa Família. São cerca de R$ 28 bilhões para o programa. Esse corte é para
não ter novos ingressos. Quem sai, não retorna. Quem fica, fica. Não vamos
tirar ninguém do programa", afirmou o parlamentar ao G1.
A decisão de tirar recursos do
Bolsa Família foi anunciada nesta segunda ao governo, em reunião com líderes da
base aliada e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini,
responsável pela articulação entre Planalto e Congresso Nacional.
Caberá a Barros elaborar um
relatório sobre proposta orçamentária enviada pelo governo. Ele poderá manter o
texto ou apresentar uma proposta alternativa, com alterações. O projeto precisa
ser votado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e depois ser submetido ao
plenário do Congresso Nacional.
O líder do governo na Câmara,
José Guimarães (PT-CE), criticou a proposta do relator de cortar R$ 10 bilhões
do Bolsa Família e defendeu a necessidade da transferência de renda como
inclusão social.
"O Bolsa Família nem é
esmola nem é coisa para sustentar gente que não quer trabalhar, é um programa
estruturante, que estrutura a economia local. (...) É um programa de inclusão
social", disse. E acrescentou: "O governo não discutiu isso ainda,
mas sou contrário [ao corte]".
Orçamento 2016
O projeto orçamentário para o
próximo ano entregue ao Congresso tem estimativa de déficit (gastos maiores que
receitas) de R$ 30,5 bilhões, o que representa 0,5% do Produto Interno Bruto
(PIB) do país.
Foi a primeira vez na história
que o governo federal entregou a proposta de orçamento com previsão de déficit.
O documento traz ainda a previsão de crescimento econômico de 0,2% e de
inflação de 5,4% no ano que vem. O governo propõe elevar o salário mínimo para
R$ 865,50 em 2016. Hoje, o valor é de R$ 788.
Desde que recebeu a proposta
orçamentária do governo, o relator Ricardo Barros tem afirmado que a equipe
econômica poderia ter cortado mais despesas e equilibrado o Orçamento, se
tivesse incluído programas sociais no ajuste fiscal. Para ele, o governo não
cortou mais por “questões ideológicas”.
"Nós vamos votar, alterar a
aprovar. Essa é a função da comissão. Temos uma responsabilidade de analisar as
verbas que estão no Orçamento, o que ainda pode ser cortado, muita coisa ainda
pode ser cortada. Não foram mais por questões ideológicas, porque são programas
que o PT criou e não quer cortar o programa que criou. Mas nós temos aqui uma
comissão pluripartidária, e não teríamos nenhuma dificuldade em passar a
tesoura em R$ 30 bilhões do Orçamento. Nenhuma", disse Ricardo Barros em
sessão de setembro da Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Para recompor o déficit de R$
30,5 bilhões, a equipe econômica do governo apresentou um pacote com medidas de
corte de gastos e aumento de impostos. O único programa social afetado, porém,
foi o Minha Casa, Minha Vida, que dá subsídios para a compra de casas
populares.
Entre as propostas para
equilibrar o Orçamento está o aumento da arrecadação com a possível recriação
da CPMF. A ideia do governo é cobrar uma alíquota de 0,2% sobre todas as movimentações
financeiras. Os recursos seriam usados para pagar despesas com a Previdência
Social. A volta do imposto enfrenta, no entanto, resistência tanto da base
aliada quanto da oposição.
Ricardo Barros disse que, por ser
uma receita "incerta", não vai considerar no projeto do Orçamento os
R$ 32 bilhões que o governo pretende arrecadar com a volta da CPMF. Segundo
ele, como a obtenção desses recursos ainda depende do aval do Congresso, cortes
no Bolsa Família e, eventualmente, em outros programas serão necessários.
Presidente da CMO
A presidente da Comissão Mista de
Orçamento (CMO), senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), se disse “abismada” com a
notícia de que o relator pretende reduzir o orçamento do Bolsa Família. Ela
ponderou, no entanto, que qualquer sugestão está sujeita à discussão e votação.
"Estou abismada, porque nós
vamos ter reunião de líderes agora. Lembre-se sempre que o relatório dele, como
de qualquer outra pessoa, está sujeito a discussão, emenda e votação no
plenário. Você está me dando essa notícia agora, eu não sabia", disse à
reportagem.
Ela argumentou ainda que é
preciso verificar antes de mais nada se, por ser um programa, não tem
obrigatoriedade de ser cumprido ou não. A senadora ainda o criticou porque ele
deveria ter trazido o tema para debate na comissão.
"Por ser um programa,
primeiro tem que se discutir se no lugar desse programa tem recursos, tem
obrigatoriedade de ser cumprido ou não, se é uma proposta assim apenas para
fazer um corte de gastos do governo, seja com despesa, investimento ou custeio.
Então, vou saber disso agora. Você está me dando a notícia e eu estou abismada.
Antes de mais nada, ele deveria debater isso na comissão", disse.
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