A Polícia Federal está no encalço
dos empresários Nilson Alves Ribeiro e Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, que
tiveram prisão preventiva decretada dentro da Operação Carne Fraca, mas estão
foragidos. O primeiro Nilson é pai do segundo e ambos são sócios do frigorífico
Frigobeto. Os dois são acusados de pagar 350.000 reais em propina para fiscais
do Ministério da Agricultura no Paraná em troca de uma licença em tempo recorde
para abate de carne de cavalo. Tanto um como o outro têm cidadania italiana, o
que deixou a Polícia Federal em alerta. Nilson pai, por exemplo, já está fora
do Brasil. E Nilson filho está sendo monitorado pela PF, mas tem escapado do
cerco policial. Os investigadores descobriram que ele havia comprado uma
passagem para a Itália e armaram um esquema para prendê-lo no aeroporto. Mas
ele deu o “bolo” e deixou os policiais chupando o dedo. Dos 38 mandados de
prisão expedidos na operação, só os da família Ribeiro não foram cumpridos até
agora.
No ano passado, a família
Ribeiro, que mantém o frigorífico Frigobeto em Londrina, decidiu ampliar os
negócios e passou a abater carne de cavalo. Como tinham livre trânsito no órgão
público que concede licenças, eles começaram o abate antes de ter permissão. Só
depois procuraram o fiscal Gercio Luiz Bonesi que, segundo a PF, faz parte da
organização criminosa instalada dentro do Ministério da Agricultura,
especializada em concessão de documentos em troca de propina.
Em um das ligações interceptadas
pela polícia com autorização judicial, Nilson pai e Nilson filho discutem o
pagamento da propina aos fiscais. No primeiro diálogo, o filho diz ao pai, que
está na Itália, que os fiscais pediram 700.000 reais para liberar o frigorífico
para abate de carne de cavalo. O chefe da família reclama. “É muito dinheiro. Diz
a eles que o nosso negócio é muito pequeno”. O filho volta a negociar com os
fiscais e diz ao pai que conseguiu baixar a propina para 350.000 reais, mas
pondera que o pagamento tem de ser feito no dia seguinte. O pai barganha ainda
mais: “Então fecha esse valor, mas diz que vamos pagar 150.000 reais de entrada
e dividir o restante em duas parcelas de 100.000 reais. Pede muito prazo para
dar tempo de fazer esse dinheiro”, orienta.
O mais curioso é que, no final da
ligação, o filho ainda explica para o pai que a família sempre soube “desde o
início dos negócios” que só sobrevive no ramo quem tem dinheiro para “pagar por
fora”. “É aquilo que te falei, pai. É tudo no dinheiro mesmo. Não tem outro
jeito, né? Se quiser entrar na Justiça, deixar correr, ainda vamos gastar isso
tudo ou muito mais com advogados e ainda ficaremos na incerteza”. O pai
concorda e manda o filho providenciar o pagamento. A primeira parte da propina
foi paga em um hotel em Curitiba e a segunda parcela no aeroporto. Em um dos
pagamentos, os Ribeiro arrolam outro membro da família, o caçula Jose Nilson
Sacchelli Ribeiro, que não teve a prisão decretada, mas foi depor
coercitivamente.
Segundo a PF, as propinas pagas
pela família Ribeiro abasteciam a organização criminosa liderada pelo ex-superintendente
do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, afilhado do
atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR). As investigações apontam
que Daniel comandava um bando formado por nove fiscais agropecuários. Ao
investigar o patrimônio de Daniel, a PF descobriu que ele possui uma dezena de
imóveis e carros de luxo com valores de mercado incompatíveis com a sua renda.
Parte desse dinheiro, segundo a polícia, escorria para a conta corrente do PMDB
e PP.
Em um blog pessoal, Nilson
Umberto Sacchelli Ribeiro se intitula comendador do Paraná desde 2014, quando
recebeu “a mais alta honraria do Estado” das mãos do governador Beto Richa
(PSDB), com quem aparece em diversas fotos no blog. Tem ainda publicações com os senadores
Roberto Requião (PMDB-PR) e Alvaro Dias (PV-PR). Em diversos posts, Ribeiro, o
filho, aparece na pista de vários aeroportos pelo mundo. Mas a imagem que mais
chama a atenção é ele na porta de um avião da TAM no aeroporto de Curitiba em
data incerta. Se a PF não se apressar, corre o risco de ficar a ver navios.
Fonte: Veja.com
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