O censo escolar levanta ano a
ano, escola a escola, dados que ajudam a dimensionar o quanto o Brasil avançou
– ou não – na quantidade e na qualidade do ensino. Na edição que o Inep, órgão
ligado ao Ministério da Educação (MEC), divulga nesta quinta-feira, há um dado
que, mesmo tendo jeitão de reprise, deve vir aos holofotes como um aviso de que
há algo de muito errado por aqui: a repetência no país continua entre as mais
altas do mundo. Trata-se de um indicador inequívoco do baixo nível das escolas
brasileiras.
Os números confirmam que o Brasil
está ainda muito longe do que propõe o Plano Nacional de Educação: no papel,
95% dos alunos deveriam concluir o ensino fundamental na idade adequada até
2024; na realidade, 23% (quase um de cada quatro estudantes) que cursam o 9º
ano em colégio público repetiram pelo menos uma vez ao longo de sua vida
escolar. A diferença para as escolas particulares merece ser ressaltada pelo
fosso que as separa: na rede privada, 7% tiveram a mesma trajetória.
“O alto índice de alunos
repetentes sinaliza que o professor não está ensinando, o aluno não está
aprendendo e o Brasil joga dinheiro fora num sistema inoperante”, resume a
secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães. Em 2015, a repetência
dragou cerca de 30 bilhões de reais dos cofres públicos (está incluído aí o
preço de pagar duas vezes pelo mesmo aluno). O economista americano Eric
Hanusheck, especialista em derrubar os costumeiros mitos que pairam sobre a
sala de aula, costuma dizer: repetir custa caro ao aluno e ao país. E pior
ainda, é um ciclo vicioso. Repetência chama repetência. Mas que fique claro: a
ideia não é passar todo mundo de ano baixando a régua. Escola boa é aquela que
consegue evitar este desfecho se Dentre os outros números do censo, vale
destacar que a tão propalada universalização da pré-escola, que deveria ter
acontecido até o ano passado, não se concretizou. Sim, era o que a lei exigia,
mas os números mostram que ficou só no texto mesmo: 600 000 alunos de 4 e 5
anos ainda estão fora da sala de aula. Já está comprovado que quem entra na
escola bem cedo, e recebe estímulos apropriados, se beneficiará disso por toda
a vida escolar. Na outra ponta, 1,6 milhão de jovens entre 15 e 17 anos – a
idade esperada para o ensino médio – não estão estudando. O censo não deixa
dúvidas de que é chegada a hora de o Brasil começar a ter, com o perdão do
trocadilho, senso (com “s”) de responsabilidade com o futuro.m abrir mão de
metas elevadas.
Fonte: Veja.com
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