O Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu nesta terça-feira que o juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava-Jato em
Curitiba, não pode investigar o ex-senador José Sarney (PMDB-AP) com base na
delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Isso porque
Sarney já é investigado pelos indícios surgidos a partir da delação no STF.
Portanto, o ex-parlamentar não poderá ser alvo de outro inquérito na primeira
instância sobre o mesmo assunto.
No ano passado, o ministro Teori
Zavascki, que era relator da Lava-Jato no STF, autorizou o compartilhamento da
delação com Moro. O juiz inseriu as informações em um inquérito que já estava
aberto na 13ª Vara Federal de Curitiba. Agora, esses dados terão de ser
retirados da investigação. Nos depoimentos, Machado disse que Sarney recebeu
propina de contratos da Transpetro durante nove anos, no valor total de R$ 18,5
milhões.
Na sessão da Segunda Turma do
STF, o novo relator da Lava-Jato, ministro Edson Fachin, votou pelo
compartilhamento, concordando com a decisão de Teori. O julgamento representou
a primeira derrota de Fachin na Lava-Jato, porque os outros quatro integrantes
da turma discordaram dele, determinando a retirada da delação do inquérito que
está sob a condução de Moro. Discordaram de Fachin os ministros Gilmar Mendes,
Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello.
Para impedir o compartilhamento
de provas com Moro, os quatro ministros do STF ponderaram que uma pessoa não
pode ser duplamente investigada em dois foros diferentes. Toffoli ponderou que,
com inquérito aberto sobre o mesmo assunto em duas instâncias, a defesa teria
dificuldade em atuar.
— Está evidente que o agravante
(Sarney) não sabe por quem está sendo investigado. É preciso deixar claro para
o agravante onde ele vai responder — disse Toffoli.
Os ministros também consideraram
que Sarney é alvo de inquérito no STF com dois senadores: Romero Jucá (PMDB-RR)
e Renan Calheiros (PMDB-AL). Como as suspeitas contra todos estão muito interligadas,
não seria produtivo para as investigações se elas corressem de forma separada.
Por isso, mesmo sem ter direito ao foro privilegiado, Sarney será investigado
no STF. Esse tipo de prática é comum no tribunal e serve para dar mais unidade
às apurações.
Em seu voto, Fachin explicou que
Teori não separou Sarney dos demais investigados ao enviar a delação de Machado
para a primeira instância. O ministro teria apenas compartilhado a prova. No
entanto, para os demais integrantes da Segunda Turma, na prática, a decisão de
Teori possibilitou que Sarney fosse investigado em duas instâncias ao mesmo
tempo.
— Compartilhar informações não
significa desmembrar (a investigação) — argumentou Fachin.
Em delação premiada, Machado
disse que, dos R$ 18,5 milhões repassados a Sarney, R$ 16 milhões foram
recebidos em espécie. O dinheiro está inserido na propina total repassada pela
Transpetro ao PMDB, que somou mais de R$ 100 milhões ao longo dos anos, também
segundo o delator.
Machado disse que conheceu Sarney
na década de 1980 e que, no início de 2006, o ex-senador o procurou reclamando
de “dificuldades para manter sua base política no Amapá e no Maranhão”. O
pedido foi de ajuda financeira para contornar o problema. O primeiro repasse de
propina a Sarney teria sido realizado em 2006, no valor de R$ 500 mil. A
princípio, o dinheiro teria sido repassado sem periodicidade certa. A partir de
2008, as parcelas teriam sido pagas anualmente. Segundo os depoimentos, os
repasses perduraram até agosto de 2014.
Nenhum comentário :
Postar um comentário