A transmissão sexual do zika já
foi notificada em oito países. Segundo um boletim da Organização Mundial da
Saúde (OMS), divulgado na quinta-feira (21), Argentina, Chile, Estados Unidos,
França, Itália, Nova Zelândia, Peru e Portugal têm evidência desse tipo de
transmissão porque registraram casos autóctones da doença sem ter, em seu
território, a presença do mosquito transmissor.
Ainda segundo a OMS, seis países
tiveram aumento de casos de microcefalia associados à doença: Brasil, Colômbia,
Cabo Verde, Polinésia Francesa, Martinica e Panamá. Desde 2007, quando o
primeiro surto do vírus foi documentado, 66 países tiveram registro de zika.
Destes, 42 nações notificaram casos de transmissão do zika a partir de 2015,
quando a doença foi identificada pela primeira vez nas Américas.
Zika em macacos no Ceará -
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontraram, pela primeira vez
fora do continente africano, macacos infectados pelo vírus zika no Ceará. A
descoberta, publicada recentemente no periódico científico bioRxiv, indica que
a doença se espalha com mais facilidade e pode ser mais difícil de ser contida
do que se imaginava.
"Esse é um achado que nos
deixou muito preocupados porque mostra que o zika veio para ficar. Assim como
no caso da febre amarela, o vírus tem um ciclo não só em humanos, mas também em
animais silvestres, que podem tornar-se um reservatório. É por isso que, no
caso da febre amarela, mesmo com a vacina, a gente nunca conseguiu erradicar o
vírus, porque ele fica circulando entre os primatas. Isso não acontece com a
dengue, por exemplo", explica Edison Luiz Durigon, professor titular do
departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP
e um dos coordenadores do estudo.
Os macacos infectados pelo vírus
foram encontrados em diferentes regiões do Ceará entre os meses de julho e
novembro do ano passado. Na ocasião, cientistas do ICB-USP e do Instituto
Pasteur estavam no local capturando saguis e macacos-prego para um estudo sobre
a raiva.
"Resolvemos testá-los também
para o zika e, para nossa surpresa, 29% das amostras deram positivas, todas
elas de macacos capturados em áreas onde há notificação de zika e ocorrência de
microcefalia", diz o pesquisador, um dos integrantes da Rede Zika,
força-tarefa de cientistas paulistas criada no ano passado, com auxílio
financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
para estudar o vírus.
Na pesquisa, 24 primatas (15
saguis e 9 macacos-prego), provenientes tanto na região costeira do Ceará
quanto das áreas de caatinga e de floresta, foram testados para zika com a
técnica PCR em tempo real. Destes, sete estavam com infectados: quatro saguis e
três macacos-prego. Todos os animais capturados tinham com domésticos ou viviam
próximos aos humanos Após passarem pelo exame, os macacos tiveram um microchip
implantado e foram devolvidos ao habitat natural.
"Estes não são macacos
completamente silvestres, eles costumam ir às casas das pessoas para buscar
comida e ali podem ser contaminados, voltando para o ambiente selvagem levando
o vírus e, inclusive, infectando outros tipos de Aedes. Por enquanto, é o
humano que está provocando a infecção do macaco, mas daqui a pouco pode ser o
contrário", afirma Durigon.
Esta descoberta pode apontar para
um dos motivos de o zika ter se disseminado tão rápido pelas Américas. Em menos
de dois anos, a doença já foi identificada em 35 países do continente, enquanto
a dengue levou décadas para se espalhar na mesma amplitude. A dengue, no
entanto, é incapaz de infectar macacos e, portanto, não tem o chamado
reservatório em animais silvestres.
"O que acontece com os vírus
é que, para eles se multiplicarem em um organismo, precisam que as células de
um indivíduo tenham um receptor. Eles só conseguem infectar as células que são
permissivas a eles. Mesmo se um mosquito positivo para a dengue picar o macaco,
não consegue infectá-lo porque não há esse receptor nas células. Já no caso da
zika, descobrimos que sim", diz o pesquisador da USP.
Embora a infecção por zika já
tivesse sido detectada em macacos da África, os cientistas se surpreenderam
porque os primatas do novo e velho mundo, como são classificados, têm
estruturas genéticas e suscetibilidade a doenças diferentes. Não havia,
portanto, a obrigatoriedade de um primata do continente americano ser
suscetível à infecção por zika.
Com o achado, os pesquisadores
pretendem retornar ao Ceará em meados de maio para fazer exames em mais macacos
e tentar recapturar alguns dos animais já testados para que eles sejam
estudados de forma mais aprofundada.
(Com Estadão Conteúdo)
Nenhum comentário :
Postar um comentário