Quando chegam ao fim do terceiro
ano do Ensino Fundamental, uma em cada cinco crianças de oito anos (22,2%) não
consegue ler uma frase inteira. Nesse período, em que deveriam estar
completamente alfabetizadas, elas decifram apenas algumas palavras isoladas, de
acordo com os dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), divulgados
pelo Ministério da Educação (MEC), nesta quinta-feira (17).
Além disso, mais da metade dos
alunos (56,17%) só é capaz de encontrar uma informação em textos se ela estiver
na primeira linha, o que revela o baixo fôlego de leitura dos alunos. Se
precisa escrever um texto, um em cada três estudantes (34,4%) produz frases
ilegíveis, com troca ou omissão de letras nas palavras. Em matemática, a
maioria dos estudantes (57%) não consegue solucionar questões com números maiores
que 20 ou ler as horas em um relógio de ponteiros.
A avaliação do MEC mede as
habilidades de leitura, escrita e matemática de todos os alunos do país até o
terceiro ano do Ensino Fundamental. No ano passado, os cerca de 2,3 milhões de
estudantes de 49 000 escolas públicas dessa etapa foram avaliados de acordo com
o nível em que se encontram nas três áreas. Na escala de leitura, por exemplo,
o nível 1, onde estão 22,2% das crianças, é considerado inadequado. Na de
escrita, os níveis 1 a 3, em que estão 34,4% dos alunos, são inadequados.
Em evento em São Paulo, nesta
terça-feira (15), o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, adiantou que
os níveis 1 e 2 da avaliação "inquietam". "Em países
desenvolvidos e em boas escolas, as crianças estão alfabetizadas muito antes
dos oito anos e isso precisa ser uma meta no Brasil", afirmou.
Diferenças por Estado - No país,
as regiões Norte e Nordeste têm os piores resultados. Na escrita, apenas 3,72%
dos estudantes do Nordeste e 4,12% do Norte alcançaram o melhor nível da
avaliação. No Sul e Sudeste, o registro de alunos nesse patamar foi,
respectivamente, de 32,55% e 36,13%. Para a escrita alcançar o melhor nível de
avaliação, os estudantes precisam ter capacidade de escrever palavras com
diferentes estruturas silábicas e um texto corretamente e com coerência.
Na leitura, apenas sete Estados
(Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina
e São Paulo) alcançaram resultados positivos, ou seja, mais de 50% dos alunos
ficaram nos níveis mais altos.
Em matemática, alunos de cinco
Estados (Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo)
alcançaram as notas mais altas. Nos outros 22 Estados, as notas ficaram nos
níveis mais baixos de aprendizado.
Matemática - De acordo com os resultados
da ANA, 17,7% dos estudantes brasileiros estão no nível 3 em matemática, ou
seja, são capazes de solucionar problemas com números maiores de 20 e fazer
divisões exatas com o apoio de imagens. No nível 4, o mais alto da escala,
estão um quarto dos estudantes (25,15%). Eles conseguem ler as horas em
relógios analógicos, alguns elementos em gráficos de barras e são capazes de
fazer subtrações com centenas e divisões em partes iguais sem o auxílio de
imagens.
De acordo com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do
MEC responsável pela ANA, os resultados do exame de matemática estão ligados às
notas da avaliação de leitura, pois, para interpretar os problemas e
transformá-los em cálculos é necessária a habilidade de leitura e compreensão
dos enunciados.
Exame cancelado - A ANA foi
criada com o Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), lançado
pela presidente Dilma Rousseff em 2012. Os indicadores de 2014 são semelhantes
aos números de 2013, primeiro ano em que a avaliação foi feita. Na época, o MEC
não divulgou oficialmente os dados da edição por considerá-los apenas um
diagnóstico inicial.
Em relação à edição anterior da
ANA, houve estagnação nos indicadores. Naquele ano, 57% dos alunos ficaram nos
dois primeiros níveis de leitura. Em Matemática o porcentual foi de 58%. Já em
escrita, 41,5% haviam ficado nos dois patamares inferiores - à época, a escala
usada era de quatro níveis (este ano são cinco).
No início de julho, o MEC
cancelou a realização da ANA de 2015. De acordo com o professor Francisco
Soares, presidente do Inep, a decisão refletiu a necessidade de cortes
financeiros, mas também questões pedagógicas. "Todos tinham de contribuir
(com o ajuste fiscal). Mas tem um caráter pedagógico importante", disse.
Há a possibilidade de que a prova seja aplicada a cada dois anos.
(Da redação)
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